sábado, 16 de maio de 2009

Sherazade e as Mil e Uma Noites

Conta-se que em tempos remotos havia um rei membro de uma poderosa dinastia que descobre certo dia que sua mulher o trai com um escravo. Shariar, em crise, sai pelo mundo acompanhado de seu irmão numa busca: ele quer saber se existe alguém mais infeliz do que ele. A resposta é positiva e quem lhe garante isso é uma bela jovem que também trai o marido. Desesperado, eles retornam ao reino e Shariar decide tomar uma atitude violenta: se casaria a cada noite com uma jovem diferente, e no dia seguinte mandaria matá-la. O chefe de estado ficava absorto em seus pensamentos e aflições. O desespero do homem traído que nunca mais confiaria nas mulheres! Depois de várias mortes, aparece a jovem Sherazade, filha de seu principal vizir. Ela pede ao pai que deseja se casar com o rei. O pai não entende o que a filha planeja, tenta impedir, mas de tanto insistir, ela o convence. A bela sultana possui grande cultura e inteligência. Ela elabora uma estratégia e por meio de histórias que vai sucessivamente, noite após noite, contando a um rei que no início estava desesperado, mas aos poucos, ouvindo as histórias, vai se apaixonando por ela. Sherazade contando suas histórias vai aos poucos mostrando seu amor, seu respeito e fazendo Shariar feliz. A sultana usava sua perspicácia e improvisação para que, além de salvar sua própria vida, salvasse também a vida de todas as mulheres do reino. Shariar sofre e tem uma crença de que ninguém poderia amá-lo verdadeiramente; ele se apresenta como um homem que perdeu a fé na humanidade e decide que daí para diante não dará possibilidade a nenhuma mulher de traí-lo, e levará apenas uma vida de prazer. Dorme cada noite com uma virgem, que é morta na manhã seguinte pelo seu vizir.
Sherazade desde o início mostra a esperança da narração. Ela acredita que suas histórias possam desviar o rei de seu hábito. O rei Shariar simboliza uma pessoa completamente dominada por seus fracassos. Sherazade, a heroína, coleciona crônicas de pessoas antigas e poetas, lê livros de ciência, medicina, e sua improvisação na hora de finalizar uma história deixa aquele ‘’sabor de quero mais’’ na vida do rei. Uma mulher sábia, espiritualizada e de boa formação e linda! Além de tudo isso, Sherazade tinha um projeto político bem traçado, que foi libertar todas as mulheres do reino do terrível destino imposto pelo rei. O amor no lugar do ódio e da vingança, os prazeres do sexo e a criatividade de inventar uma história cada noite. Mil e uma noites de amor: uma mulher feliz e realizada e um homem que percebeu que valia a pena mudar de idéia em relação ao que pensava sobre as mulheres.

Fonte: Texto publicado em maio de 2008 no Jornal Voz da Terra, da cidade de Assis SP.

4 comentários:

  1. "... e um homem que percebeu que valia a pena mudar de idéia em relação ao que pensava sobre as mulheres" e eu acrescentaria: sobre si mesmo.

    É sempre bom ouvir histórias que trazem ou renovam a esperança em nossos corações.

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  2. A voz de Sherazade enfrenta a força bruta, motiva as mulheres a construírem suas vidas com os propósitos divinos da palavra.
    Todas as expressões artísticas nos auxiliam a traçar o risco de nossa geografia existencial, a construir nosso devir mulher nesse tempo e espaço.

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  4. O que faz uma pessoa quando tomada de fúria ou decepção?
    Os ímpetos tornam-se amigos da alma, e impulsionam a pessoa a agir de forma descontrolada.
    A cabeça, mecanicamente, obedece a estímulos passageiros. E a pessoa acaba tomando atitudes erradas.
    Gratificante é quando aparece um outro alguém, de mente sã e piedosa, e ajuda o ser a raciocinar e interpretar aquelas ações tão mesquinhas. É como um pilar para a construção que amela cair.

    Felizes os que têm uma companhia, alguém para ajudar a levantar e a enxergar a realidade.

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