quinta-feira, 21 de maio de 2009

Machado de Assis - Dom Casmurro

Capítulo CVIII - Um Filho

Pois nem tudo isso me matava a sede de um filho, um triste menino que fosse, amarelo e magro, mas um filho, um filho próprio da minha pessoa. Quando íamos a Andaraí e víamos a filha de Escobar e Sancha, familiarmente Captuzinha, por diferenciá-la de minha mulher, visto que lhe deram o mesmo nome à pia, ficávamos cheios de inveja. A pequena era graciosa e gorducha, faladeira e curiosa. Os pais, como os outros pais, contavam as travessuras e agudezas da menina, e nós, quando voltávamos à noite para a Glória, vínhamos suspirando as nossas invejas, e pedindo mentalmente ao céu que no-las matassem...
... As invejas morreram, as esperanças nasceram, e não tardou que viesse ao mundo o fruto delas. Não era escasso nem feio, como eu já pedia, mas um rapagão robusto e lindo.
A minha alegria quando ele nasceu, não sei dizê-la: nunca a tive igual, nem creio que a possa haver idêntica, ou que de longe ou de perto se pareça com ela. Foi uma vertigem e uma loucura. Não cantava na rua por natural vergonha, nem em casa para não afligir Capitu convalescente. Também não caía, porque há um deus para os pais novos. Fora, vivia com o espírito no menino; em casa, com os olhos, a observá-lo, a mirá-lo, a perguntar-lhe donde vinha, e por que é que eu estava tão inteiramente nele, e várias outras tolices sem palavras, mas pensadas ou deliradas a cada instante. Talvez perdi algumas causas no foro por descuido.

3 comentários:

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  2. que foto linda,inquietantemente linda.um sonho realizado é sempre uma alegria inesplicavél,sendo um filko então,nem machado.

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  3. Bentinho desejou de corpo e alma um filho. Entregou-se ao desejo de um filho. Maravilhou-se com o nascimento do filho. Movimentou um desejo de potência, uma vontade vigorosa, que inventou a própria vida. Desejo REALIZADO !

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