quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Brasília 18%

Eu sou artista. Posso ter defeitos, vícios, mas eu não sou ladrão, não sou assassino. Diferentemente desses que estão sendo acusados aqui, com base nos documentos que a Eugênia me entregou e a polícia tomou. Então é isso: nome aos bois, aos tubarões, à crocodilagem. É a selva brasileira, minha gente! Porque esses deputados, esses senadores, essa quadrilha é assim. É dinheiro para o ceguinho e quem é que não quer ver? É dinheiro para órfão, e quem é que foi abandonado? Aqui, tudo, rigorosamente Tudo, se resume a dinheiro. Minha terra tem dinheiro onde canta o dinheiro... Vou-me embora pra dinheiro, lá sou amigo do dinheiro. Mundo, vasto dinheiro. Eu sou artista brasileiro. Eu não sou assassino.

(Michel Melamed)

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Fábrica de porcos

Não fiquei chateado quando a fábrica de porcos explodiu
A cor da tarde tudo absorvia
Era 'ocre'
Este som que os porcos fazem mesmo quando não estão voando pelos ares
Era areia e lilás
Sob a silhueta das fábricas
E esta cena e as cores
Reproduziam com perfeição
O que poderia imaginar sobre dentro de mim
Não me refiro é claro ao estômago, intestino, vísceras
Que talvez sejam de fato a mais perfeita tradução
Mas sobre o que passava pela minha cabeça

(Michel Melamed)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Ler Michel Melamed é inquietar o espírito...

Todas as vezes que leio Michel Melamed, amiga leitora, me sinto diferente. As palavras dele mexem com o que tenho de mais intrínseco. Michel penetra em minh’alma, rasga-me e me deixa perturbada, inquieta, pensativa, agitada, reflexiva. Uma mistura de sentimentos fervilha por dentro. A excitação é tanta que paro de pensar em tudo. Fixo-me apenas às palavras daquele Homem Encantador. E essa fixação faz com que tais palavras (ora amáveis, ora agressivas) me cerquem e formem uma capa, como se quisessem me cobrir. Então, aí, já me vejo repleta de Michel Melamed, dentro e fora.

E passo muito tempo assim, nesse misto de prazer e encantamento. Minutos, horas, dias.

Pois bem, eis que há uns muitos dias eu já não desfrutava de tais sensações. Nenhuma notícia chegava. O espaço destinado aos textos de autoria dele estava um tanto abandonado. Eu começava, então, a sentir um vazio de textos Melamédicos. Minh’alma tinha fome e sede de palavras não menos explosivas do que inebriantes. Estava quase morrendo. Sobrevivia apenas porque me restavam emoções de escritos mais antigos do pós-poeta (e confesso que, apesar de menores, as emoções eram suficientes para me manter viva).

Quando, depois de muito esperar, leio uma notícia: “Texto novo no blog do MM”. Apenas o ato de ler tal notícia, eriçou-me os pêlos. Agitei-me. Um calafrio percorreu meu corpo. E não tardei em acessar o Blog do poeta.

Abri o Blog. O texto brilhava. As palavras tilintavam. Meu coração palpitou. Minha mão suou. Logo comecei a ler. Li e reli umas duas ou três vezes. Quis que cada palavra alimentasse o meu ser. E, mais uma vez, senti a inquietação se sempre. As palavras me rondaram, entraram e saíram de mim.

Não muito depois, peguei um lápis e um papel. Decidi jogar minha interpretação numa folha em branco. Consegui, ainda que muito inquieta. Interpretei e deixei no Blog para que ele lesse.

E, agora, amiga leitora, compartilho contigo minha interpretação para o texto de Michel Melamed nascido há três dias.


"Anotei o que pediste: um grande amor acabou assim. Anotei e continuei a te ler. Ao terminar a leitura, senti-me perturbada. Tuas palavras inquietaram-me o espírito. Senti um misto de prazer e desgosto pelo teu texto. De imediato, tentei interpretá-lo. Mas, a perturbação foi tanta que não consegui arranjar palavras para tal interpretação.
E me veio, mais uma vez, a estagnação ao tentar te escrever. Mas, desta vez, ela veio acompanhada. Do silêncio. Do amor. E, esses dois últimos, sobrepuseram-na e falaram a mim. Bati um papo com o silêncio. Perguntei por que ele te cercava, por que chegava a ti. Ele me respondeu brevemente, dizendo que talvez se misturasse ao vazio que tu, por ventura, pudesse estar sentindo. Concordei com tal silêncio (que, para mim, não foi nem surdo, nem mudo e tanto falou). E te digo: talvez esse silêncio cego-cão-Jesus-perneta-retardado-suicida seja sinônimo de um enorme vazio em teu peito; a certeza de que não se está bem e de que a falta de algo essencial é imensurável.
Mas, o que seria essa falta? Não tive tempo de perguntar ao silêncio. Ele se afastou. Tomou o lugar dele o Amor. Esse amor quis conversar comigo. Logo nos primeiros minutos de conversa, vários trechos de teu texto me vieram à mente. Tentei conectar o silêncio com o amor. O amor no silêncio. Não sei se consegui, pois não expus minha opinião. Mas, ele me falou das tuas (opiniões). E ficou chateado, uma vez que proferiste tais palavras: “O amor é porco. Te come e arrota na cara.”. Palavras me faltaram para responder ao amor. E ele me deixou só. Aliás, a estagnação ainda estava comigo. Confesso que ela foi legal; deixou-me pegar teu texto mais uma vez e reler.
Aí, consegui fazer alguma conexão. Pude sentir uma certa melancolia e raiva em tuas palavras, ao falar do amor. Será que isso é a causa para sentires um vazio-silêncio, tão cheio? Li tua analogia à morte, senti teu desejo de um beijo intenso, compartilhei teus momentos de insônia e toda a tua revolta. Refleti, ainda, sobre as conversas que tive com o amor e com o silêncio. Tirei uma conclusão. Parece evidente que tu não te sentes bem e que o amor já te decepcionou. Arrotou na tua cara, te levou ao cemitério, te socou o olho.
Mas, creio que não consegues viver sem amor. Mesmo que ele te machuque. Porque a falta de amor te traz o silêncio. Porque, quando estás sem amor, o silêncio vem te acompanhar. Esse silêncio que é o melhor, que é campeão, que tem um brilho no olhar. Um silêncio que é um vazio te corroendo por dentro. E sentes vontade de gritar, de explodir.Calma, ainda tens o amor. Mesmo que te machuque. Machuca, mas não mata. O que mata é o silêncio. Te mata e se mata. Então, pede para que o silêncio vá embora e te cala. Tragas de volta a vontade e a esperança de um amor sem espinhos. Um amor assim não pode acabar.

Agora, com amor saudável, calo-me eu. E vou-me embora. A estagnação me espera. A ti, deixo um grito e um beijo estalado na palma de tuas mãos."

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Samba para Dom Casmurro

Pedra, com as unhas da espera, seu cume cego afia-se no céu. Cercado pelas curvas da cidade, aguardando sua passagem. Pedra, uma esfera arranha seu chapéu. Pedra, invadindo sua imagem. Seu colar de páginas. Na fila das setas secretas. Arrebenta com a miragem. Pedra, soterrando a revoada perpétua. Revoada perpétua! Pedra, não quero cantar contigo. Eu sempre achei que o amor, o grande amor, fosse incondicinal. Que quando duas pessoas se encontram, que quando esse grande encontro acontece, você pode trair, brochar, dar todas as porradas, se for um grande o amor, ele voltará triunfal. Sempre. Mas não, nenhum amor é incondicional, então acreditar na incondicionalidade do amor, é decididamente precipitar o fim do amor, porque você acha que esse amor aguenta tudo, então de um jeito ou de outro você acaba fazendo esse amor passar por tudo, e um amor não aguenta tudo, nada nesse vida é assim. E aí você fala que esse amor não tem fim, para que o fim então comece. Um grande amor não é possível, talvez por isso seja grande. Então, assim, nele, obrigatoriamente, pode caber também o impossível. Mas quem acredita? Quem acredita no impossível, que não apaixonadamente? Como a um deus, incondicionalmente. O mar quebra nas pedras. E as pedras requebram no mar.

(Michel Melamed)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Regurgitofagia

Ser pisciano, judeu, carioca e poeta, é além da pulga como orelha viver o eterno e generalizado déjà vu. Não existem novidades no mundo. Moleza ouvir uma história e passar a acreditar que é sua. Mais: ouvir sobre um lugar, como por exemplo, Botucatu, e lógico, grande Botucatu, maravilhosa, conheço muito bem etc e tal. E o Flavinho? Ontem por exemplo fui a um bloco de carnaval. Entre as tetas da massa, este folião daqui ao perceber uma janela acesa no último andar do prédio fronteririço, imediatamente foi acometido de pungente nostalgia. Pude mesmo ver o velhote daquela janela - eu - do alto dos meus oitenta e poucos relembrando-me de mim ali no recôncavo da juventude, entre beijos e goles neste mesmo bloco de carnaval em que me vejo relembrando de mim aqui no bloco sendo assistido por mim ali... Então fui tomado de lembranças várias, dos carnavais passados, mulheres que amei, sonhos realizados e os que ficaram entreteias. Vi meus pais de mão dadas com meus filhos. Vi, enfim, como num Aleph do Borges - apenas que personalizado - todas as passagens da minha vida: da aranha tecendo entre os sonhos ao negro azul que te possuiu sob a árvore verde na madrugada, olhares de concupiscência, os malfeitores do bairro, a atriz inglesa que te vociferou insultou e bêbada te beijou a força e o irremediável amor pelas crônicas do Rubem Braga e por toda e qualquer literatura brasileira que fale de pequenos acontecimentos do dia-a-dia, como retratos, como por exemplo "eu contava do filme em que a mocinha bem tola dizia alguma coisa e você ficou me olhando como se...". E então tive a certeza da vida vã. E sorvi de um gole só meia lata de cerveja. E queimei os lábios ressequidos com um chá de hortelã. E entoei um samba. E bocejei com as mãos trêmulas. E beijei uma mocinha que já me conhecia. E minha velha postou a mão sobre meu ombro. E fiquei melancólico com o futuro. E sorri lembrando o passado. Você, que é um taurino, católico, dentista e baiano - correntista da Caixa; ou uma libriana mulçumana, publicitaria e gaucha - Banco Sandy e Junior; até mesmo um leonino, ateu , ator e paulista - Bank de Boston, saiba: é muito dificil ser pisciano, judeu, carioca e poeta - correntista do Itau. Ter a sensação de que tudo que acaba de dizer, já foi dito, foi pensado, esquecido.

(Michel Melamed)

domingo, 11 de janeiro de 2009

Escrever não é tão fácil...

Às vezes tento escrever, mas o texto não sai fácil. Pego uma folha em branco, um lápis, algumas canetas. Todos perfeitamente alinhados, bem na minha frente. Mas não adianta. Não consigo nem tomar o lápis à minha mão.
Tento olhar para alguns objetos que estão ao meu redor. NADA me inspira. Volto-me à folha, ao lápis, às canetas. O papel parece servir mais como alguma espécie anteparo do que como um ‘porta-palavras’. O lápis e as canetas lembram varetas estáticas, ou algumas lanças. Isso. Lanças. Imediatamente, ameaço jogá-los para algum lugar onde não possa mais vê-los (já que alvos não existem por perto). Mas, minha ameaça não passa de um momento impulsivo.
Então, em vez de jogá-los, atrevo-me a pegar um deles (o lápis, mais precisamente) e tento rabiscar algo na folha de papel em branco. Tento. Mas não consigo. Saem apenas riscos: linhas tortas, retas curvas, curvas uniformemente alinhadas. Tudo misturado. E as palavras? Não, não... as palavras não saem.
Perco a paciência. Levanto. Tento pensar em algo ou alguém que gosto. Em vão. O único pensamento que me vem à mente é “O que está acontecendo? Por que TUDO parece fugir de mim?”. E tudo é realmente tão fugidio que nem a resposta a mim mesma eu consigo encontrar. Revolto-me. Xingo. Mas, res...pi...ro... . E volto a sentar.
De repente, enxergo uma luz. Algo parece querer sair de meu cérebro e penetrar no papel. Paro e presto atenção ao que meu cérebro quer falar. Mas, ele parece não querer dizer muita coisa. Mesmo assim, com o lápis numa mão e o papel na outra, esforço-me para escutá-lo. Depois de muito esforço, uma frase:
“Que eu possa dizer das AMIGAS que tenho: que não sejam PERFEITAS, posto que são HUMANAS, mas que sejam COMPANHEIRAS enquanto durem.”
E nada mais. Dobro o papel, repito a frase e adormeço.


Bom, espero de coração que todas vocês reflitam sobre a frase. Meu cérebro pensou, e pensa muito em vocês.
Um beijo carinhoso a todas,
Aninha

sábado, 10 de janeiro de 2009

MUDANÇAS


Mudanças acontecem ou são planejadas. Neste caso, ela foi desejada e sua realização está sendo como uma gravidez que se desenvolve. A espera assume aqueles aspectos de coisa desconhecida da qual não temos controle, só aceitar e fazer o que nos compete para que tudo dê certo.

Enquanto a hora não chega, desenho mentalmente o aspecto do novo espaço, a composição do ambiente, a aceitação das limitações e a impossibilidade de em curto espaço de tempo fazer tudo que acho ideal. Esta mudança é um desafio que assumi.

Um dos detalhes de mudanças é existir o que levar e o que deixar para trás. É preciso não ocupar todo o espaço com o já existente, deixar brechas para o novo, a serem preenchidas ao sabor das disponibilidades. Do contrário, não haverá mudança, mas mera transposição de móveis e utensílios.

Entretanto, como deixar para trás esta plantinha que resiste a todas as intempéries, valente, no canto do terraço? Exercício de desapego. Não ocupar lugar novo com coisa velha. Se não, é faz de conta, mudança aparente. Fazer as malas com coragem e discernimento. Muito trabalho. Abandonar o antigo, preparar o novo. Vencer resistências, condicionamentos, padrões, comodidade.

(Diana Gonçalves)


By: Jó Capistrano

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Casa comigo

"Casa comigo que te faço a pessoa mais feliz do mundo. a mais linda, a mais amada, respeitada, cuidada... a mais bem comida. e a pessoa mais namorada do mundo e a mais casada. e a mais festas, viagens, jantares... casa comigo que te faço pessoa mais realizada profissionalmente. e a mais grávida e a mais mãe. e a pessoa mais as primeiras discussões. a pessoa mais novas brigas e as discussões de sempre. casa comigo que te faço a pessoa mais separada do mundo. te faço a pessoa mais solitária com um filho pra criar do mundo. a pessoa mais foi ao fundo do poço e dá a volta por cima de todas. a mais reconstruiu sua vida. a mais conheceu uma nova pessoa, a mais se apaixonou novamente... casa comigo que te faço a pessoa mais “casa comigo que te faço a pessoa mais feliz do mundo”.

(Michel Melamed)



Hálito mestiço

"Em futuro estudo a ser publicado em conceituada revista do meio científico, será comprovada não só a existência mas os índices alarmantes da incidência da cárie cerebral. o fenômeno, que atinge povos de todos os países, tem como uma das suas principais causas, como é de se esperar, os péssimos hábitos alimentares das populações, cultivados, principalmente, através do consumo de enlatados americanos, novelas açucaradas e toda a sorte de (conceitos) embutidos. a fim de evitar a extração do órgão sob risco de seqüelas irreversíveis, como por exemplo, o pensamento banguela, recomenda-se expressamente o uso continuo e correto do fio mental. e da escova de mentes. vamos juntos fazer do brasil um país de sorriso branco e preto e mulato e cafuzo e índio e... hálito mestiço! "

(Michel Melamed)

Michel Melamed - um dínamo neural


Desde os 16 anos, quando tomou coragem e leu seus versos pela primeira vez fora do circuito escolar, Michel Melamed nunca mais parou de dizer o que pensa. Nem de experimentar. Já fez um monte de performances, apresentou programas de TV, escreveu, dirigiu e atuou em três monólogos, levou choques e queimou dinheiro no palco.
Também lançou um livro, compôs, foi colunista de jornal e atuou no cinema. Perdeu 21 quilos em três meses para um projeto cercado de expectativa. Em dezembro, estreiou na TV Globo a série "Capitu", adaptação do diretor Luiz Fernando Carvalho para o clássico "Dom Casmurro", de Machado de Assis. Michel foi Bento Santiago, o Bentinho na fase adulta, o Dom Casmurro.

É difícil apresentar alguém que se movimenta em tantas esferas culturais diferentes, com suportes diversos e entrelaçados. Melamed move-se com fluidez pelas oportunidades criadas, aplicando idéias apaixonadas ao mundo à volta.


“Meu trabalho em essência é o de escritor. Tudo começa com a folha em branco. Seja para o livro, teatro ou tv. De qualquer modo, acredito que o processo criativo é o fator determinante, sendo o suporte secundário — a exceção a coisa toda do virtuose... Mais ainda em se tratando da contemporaneidade, onde a generosidade necessária se dê talvez através da qualidade do olhar, do aparelhamento e potencialização desse olhar, enfim, sendo este tráfego pelos interstícios e linguagens o fator e objetivo preponderante. Portanto, quem mais qualificado para escrever um poema que um músico? Para fazer um filme que um poeta? Para compor uma canção que um artista-plástico? Em resumo, o transdisciplinar, sincrético, miscigenado, em todos os campos, seja falando sócio-economicamente ou sobre a alta cultura e a cultura de massa, enfim, estes desafios acrescentam ou são mesmo o próprio trabalho de espelhamento, entendimento e transformação da realidade. Acredito que o papel do artista em qualquer sociedade é o de redimensionar as coisas, objetos, pessoas, fatos. Permitir e descortinar as camadas e profundidades. Como estávamos falando, revigorar o nosso olhar, entendendo-se por olhar, qualquer dos matizes estabelecidos em todo e qualquer relacionamento. Daí os mais diversos recursos, como o belo, o estranhamento, enfim, sendo um objetivo possível afirmar as diferenças, os seis bilhões de projetos para o mundo. Em resumo, participar da afirmação de um livre pensar, plural, autônomo e original.”


O poeta é um poeta é um poeta, o tempo todo.

Meus queridos um pouco de Michel Melamed pra vocês e imensas saudades do trabalho dele, por onde andas nosso pisciano, judeu e correntista do Itaú??? Espero quem muito em breve ele retorne pra encher nossas vidas de poesia e seu discurso criado sem linearidade, repleto de sentidos ressignificados. Saudades muitas de tudo isso.


By: Jó ^;^

domingo, 4 de janeiro de 2009

Momento de reflexão com algum rabisco manuscrito...

Era uma noite morna, de vigésimo dia do último mês, de um ano que acabara de terminar. Como de costume, estava eu a alternar uma boa leitura com bobas navegadas no mundo virtual. Um capítulo aqui, um blog acolá. Parei com tal conflitante alternância ao deparar com um texto recém-nascido no blog do rapaz de meus devaneios (Sim, aquele Michel Melamed).

Pois bem, o texto estava lá, cheirando a novo. Quentinho. As palavras ainda derretiam umas sobre as outras. E o cheiro? Tinha um aroma agradável de algo que acabava de ser produzido. Misturado a esse cheiro inebriante, ainda podia-se sentir um leve olor de Mar, de água verde do Mar. Confesso: fui arrastada por tal fragrância. Meu olfato foi levado à tela do computador. Junto com o olfato, minha visão.

Comecei a ler, cheirar e até comer o texto. As palavras, outrora derretidas, digeriam-se agora em meu cérebro. E eu continuava. Não me saciava de tal texto. Uma de-lí-ci-a. Mas, alguns minutos depois, já chegava ao fim. Acabei de ler, cheirar, comer o texto. Guardei TODAS as palavras em mim. E UMA de muitas frases parecia piscar dentro de meu sistema cerebral. Estava inquieta. Pedia alguma interpretação. Exigia alguma resposta.

Obedeci ao pedido dela. Peguei um papel, um lápis. Fiz alguns rabiscos manuscritos. Elaborei um texto em versos para interpretar tal frase. Mas não me restringi apenas a ela (a frase). Ao mesmo tempo em que interpretei, respondi a todo o texto e ao AUTOR do texto (principamente).

Então, me perguntas: "Mas que frase era essa tão inquieta?". Respondo-te sucintamente: "O Mar é uma mulher.".

Portanto, expunho-te minha resposta a tal frase e ao texto ao qual ela estava inserida naquela noite de vinte de dezembro.


"Vai

Abre o olho.
Acorda.
O Sol sorri a ti.
Levanta.
Sai desse quarto que te prende.
O Mar te chama,
O Mar quer te ver.
Vai ver o Mar.
Vai.
O Mar quebra nas pedras,
As pedras requebram no Mar.
Vai apreciar o Mar.
Vai.
O Mar te oferece um oceano.
O Mar quer te arrastar.
Vai, entra no Mar.
Vai.
Dentro do Mar uma mulher te convida a nadar.
Escuta a voz dessa mulher,
Deixa a mulher te levar.
Vai descobrir o Mar.
Vai.
E te entrega ao Mar, te afoga no Mar.
Mas, não morre no Mar.
Vive no Mar.
Ama o Mar.
Ama a mulher.
Ama a mulher do Mar.
Ama o Mar da mulher.
A mulher é um Mar.
O Mar é uma mulher.
Vai conhecer o Mar.
Vai desvendar a mulher.
Vai."


Com carinho, a Michel Melamed.

De Ana Paula (Aninha).

Poema escrito em 20/12/08.


sábado, 3 de janeiro de 2009

Homem de lata

O Homem-de-lata afunda a pata no acelerador de sua caranga de carne-e-osso. Avança sobre o centro nervoso da cidade desalmada afim de lançar o coração como granada. A missão cumprida lança-o à rotina. Homem-de-lata envasa à direçao de sua casa num vôo propulsionado a tapa na nuca, cascudo na carapinha, movido a preguiça - como que içado pelos pentelhos de bombril por uma pinça. Estaciona na garagem do prédio de carne-e-osso. Senta-se no sofá de fígado e abrindo uma latinha de sangue estupidamente barato encrosta-se na sua tv de cartilagem plana. Dorme homem-de-lata, dorme. Adentra essa mata de fibra ótica sob este céu de fusíveis. veja como é belo o mar de gasolina quebrando nos bytes da praia. Sonha homem-de-lata, sonha. O que não te fortalece te mata. Há de haver um lugar onde a vida é só aço, madeira, ferro, plástico. O mundo é também dos que apenas sonham que podem conquistá-lo. Homem de lata, acorda sobressaltado. Onde haverá pedra neste mundo, pensa, estou farto de semi-máquinas. Senta-se à escrivaninha de gordura e, lembrando-se do amanhã, escreve em seu notebook de estrias:

"Rio de janeiro. Menos 20 graus. Os patinadores cavalgam parelhos no espelho de gelo da lagoa. O Cristo Redentor, quase irreconhecível assim, com a neve cobrindo-lhe o dorso das mãos, pés, braços, ombros, cabeça... não fosse a justa localização e tamanho poderia se suspeitar que fosse outrem ali: Um king-kong petrificado no apogeu da escalada; uma esfinge, de pé, propondo a pantomima de seu enigma; a Estátua da Liberdade - renunciando à tocha, os braços semi-erguidos como asas, livre; quiçá a Torre Eiffel obesa ou mesmo um patético espantalho gigante afugentando o sol... queda lentamente escorada pelo absoluto silêncio, este silêncio hibernado há mais de 500 anos, lapidando as hélices dos flocos para o desbunde branco. Casais sobre esquis descem o Pão-de-Açucar. Na Baía de Guanabara vê-se um pai que puxa o filho num trenó. Pingüins aplaudem a aurora boreal no Posto 9. Vai mesmo que o Pau-Brasil cisma de desbotar na Polônia e uma ave gargarejar na Rússia! Uzbequistão e suas palmeiras do mangue... Sibéria, 40°. Hoje, aqui, são as neves de março que fecham o verão. E promessa nenhuma. Nunca mais."

(Michel Melamed)

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Michel em 2009


Queridos melamidicos

Não resisti e mandei um e-mail para aquele endereço que tem no site do Michel, e perguntei quais seriam os projetos dele para 2009. Segundo Matheus S., assistente de produção do Michel, seu próximo projeto é a temporada do espetáculo Homemúsica no primeiro semestre de 2009, em São Paulo.