domingo, 3 de maio de 2009

Crítica - Homemúsica

As hélices convexas de um helicóptero em miniatura - por Paulo Bio Toledo

Prólogo

Michel Melamed é sensação cult. Tem fileiras de fãs. Dezenas de comunidades no Orkut. Sites e blogs na internet com mais de mil visitas diárias. Programa na TV. É o Dom Casmurro da Rede Globo. E já rodou o mundo tomando choques e queimando dinheiro. Michel Melamed é um poeta dentro de um liquidificador de linguagens. Seu Homem-música Helicóptero voa baixo e distante… Seu som é um eco longínquo no segundo plano de um teatro deslumbrado e ansioso por, agora sim, Michel Melamed (!).

Capítulo 1 - Da contradição entre o sucesso e a provocação

Melamed é uma máquina de conceitos. Em entrevista ao jornalista Valmir Santos, no ano de 2006, regurgita dezenas deles: “terceira via para a cena”; “espectador co-autor”; “transgressão de forma e conteúdo”; “tudo emana da página em branco”; “profanação do espaço”; “síntese do espectador” etc… Dentre todos (nenhum muito original, já diria Hans-Thies Lehmann, enquanto levava travesseiradas de Iná, podemos encontrar um lugar, uma inquietação que permeia seu imaginário: a ação de “provocar” “sacudir” as composições habituais do teatro e da sociedade. Que, através de sua manifestação teatral-performática criem-se novos canais de percepção, pensamento e cognição sobre, no caso dessa Trilogia Brasileira, o Brasil. Mas Melamed é sensacionalmente Cult. Desde seus patológicos auto-choques regurgitofágicos é o menino contemporâneo da cena teatral. De seus espetáculos já se espera, previamente, a provocação em fragmentos. A fórmula, já bastante assimilada, é inserida, até o cansaço, numa estrutura “espetacularizada” dele mesmo: o show de seu “anti-show”. Em outros termos: sua tentativa de impor uma fórmula de ruptura “pós-dramática” acaba por superdimensionar a estrutura provocativa. O que esconde, por assim dizer, os aspectos históricos tanto do teatro quanto da sociedade. Pra não falar do Brasil, que se pretende tema da trilogia. E a explosão formal passa a sobreviver por si só. A obra como recipiente de um vanguardismo experimental pré-moldado. E, assim, ele provoca quem?

Capítulo 2 - Da dicotomia inevitável entre arte e vaidade

Entre aquilo que se convencionou chamar “estilo” ou, em outro campo do pensamento, “autoria” encontram-se as características que delineiam, na forma, um pensamento sobre arte de um determinado indivíduo. No nosso incansável mundo da mercadoria isso é a ponta de lança do marketing. Michel Melamed e sua estética provocativa, cômica, poética e artificialmente visceral já estão, como tudo, previamente empacotados e pronto a serem consumidos. Todavia, nosso Melamed parece esbaldar-se com seu rótulo; utiliza-se, para tanto, dos recursos mais diretamente ligados a sua “marca”. A grande imagem disso é a projeção no meio do espetáculo das outras duas partes da “Trilogia Brasileira” (Regurgitofagia e Dinheiro Grátis). Não como diálogo continuado, afinal trata-se de uma trilogia, mas como objeto de sarcasmo do “apresentador” – personagem estereotipada que remete ao que há de mais perverso na mídia. Ou seja, através de vias tortas, um auto-elogio. Seu trabalho prévio aparece como a própria estética do contraponto; que enoja os conservadores. Ademais, os recursos de stand-up, da imitação cômica, da música pop, com seu inevitável líder popstar, das poesias autorais etc. remetem todos com furor e alta velocidade ao verdadeiro protagonista: Michel Melamed. Ou melhor, remetem às potencialidades técnico-artísticas de Michel Melamed e seu incrível teatro performático. Conclui-se, ao fim de Homemúsica, que Michel Melamed é um bom ator e um imitador bastante engraçado; além do que, toca guitarra, canta e escreve poesias.

Capítulo 3 – A overdose de subjetividade liquida e a morte lenta e gradual desta crítica que se tentava material

Da poesia restam estilhaços cortantes; alguns fragmentos de músicas; um ou outro momento de puro lirismo… (daqueles que já se queixava Manuel Bandeira: sem qualquer sombra de libertação). E em programa enorme em branco… A ser preenchido? A afirmar o vazio metafísico da existência? Ou a lembrar as brancas torres de marfim? “E a cidade dizia: fudeu…” … de visceral fica só o tédio…

Epílogo

Enquanto escrevo essa crítica, da rua eu ouço um grito inconformado de uma menina ao celular:
“Só podia ser carioca!”
É a deixa mítica pra que se encerrem essas linhas…
70×40 de uma cartolina em branco representam quantos por cento de uma árvore?

Fonte: Publicado em 1, April, 2009 - Revista Bacante

3 comentários:

  1. Para o senhor Paulo Bio Toledo, eu diria apenas que moro em Vertente do Lério e que Michel Melamed, eu conheço, mas o senhor, quem é?

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir