quarta-feira, 29 de abril de 2009

Trecho de Entrevista – Michel Foucault

Sobre o silêncio:

- A apreciação do silêncio é uma das numerosas coisas que um leitor, sem que se espere, pode aprender de sua obra. Você tem escrito sobre a liberdade que o silêncio permite, sobre suas múltiplas causas e significações. Em seu último livro, por exemplo, você diz que não existe apenas um, mas numerosos silêncios. Seria fundado pensar que há ai um potente elemento autobiográfico?

- Penso que qualquer criança que tenha sido educada em um meio católico justamente antes ou durante a Segunda Guerra Mundial pôde experimentar que existem numerosas maneiras diferentes de falar e também numerosas formas de silêncio. Certos silêncios podem implicar em uma hostilidade virulenta; outros, por outro lado, são indicativos de uma amizade profunda, de uma admiração emocionada, de um amor. Eu lembro muito bem que quando eu encontrei o cineasta Daniel Schmid, vindo me visitar, não sei mais com que propósito, ele e eu descobrimos, ao fim de alguns minutos, que nós não tínhamos verdadeiramente nada a nos dizer. Desta forma, ficamos juntos desde as três horas da tarde até meia noite. Bebemos, fumamos haxixe, jantamos. Eu não creio que tenhamos falado mais do que vinte minutos durante essas dez horas. Este foi o ponto de partida de uma amizade bastante longa. Era, para mim, a primeira vez que uma amizade nascia de uma relação estritamente silenciosa. É possível que um outro elemento desta apreciação do silêncio tenha a ver com a obrigação de falar. Eu passei minha infância em um meio pequeno-burguês da França provincial, e a obrigação de falar, de conversar com os visitantes era, para mim, ao mesmo tempo algo muito estranho e muito entediante. Eu me lembro de perguntar por que as pessoas sentiam a obrigação de falar. O silêncio pode ser uma forma de relação muito mais interessante.

- Há, na cultura dos índios da América do Norte, uma apreciação do silêncio bem maior do que nas sociedades anglofônicas ou, suponho, francofônica.

- Sim. Eu penso que o silêncio é uma das coisas às quais, infelizmente, nossa sociedade renunciou. Não temos uma cultura do silêncio, assim como não temos uma cultura do suicídio. Os japoneses têm. Ensinava-se aos jovens romanos e aos jovens gregos a adotarem diversos modos de silêncio, em função das pessoas com as quais eles se encontrassem. O silêncio, na época, configurava um modo bem particular de relação com os outros. O silêncio é, penso, algo que merece ser cultivado. Sou favorável que se desenvolva esse êthos do silêncio.

Fonte - "Michel Foucault. An Interview with Stephen Riggins", ("Une interview de Michel Foucault par Stephen Riggins) realizada em inglês em Toronto, 22 de jun de 1982. Traduzido a partir de FOUCAULT, Michel. Dits et Écrits. Paris: Gallimard, 1994, Vol. IV, pp. 525-538 por Wanderson Flor do Nascimento.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Um pouquinho de Psicanálise - Projeção

Para Freud, o mecanismo projetivo consiste em procurar no exterior a origem de um desprazer, defendendo o sujeito daqueles sentimentos, desejos, que não suportaria percebê-los como próprios. Para justificar a existência dos eventos por eles produzidos, o indivíduo desloca-os para alguém ou alguma coisa que esteja fora, realizando uma ação projetiva. O indivíduo atribui a outrem as tendências, os desejos, etc., que desconhece em si; conteúdos inconscientes que foram recalcados deslocam-se para o meio externo e são dirigidos a outros (sujeitos e/ou objetos) como estratégia de satisfação. A projeção é uma defesa de origem muito arcaica, encontrada em ação particularmente nos casos de paranóia. Entretanto, para Freud, esta defesa também está presente em modos de pensar das pessoas consideradas “normais”. (Fonte: "Desvendando o Mecanismo da Projeção" - Psicologia em Foco)

Freud escreveu:

“A caracteristica mais notável da formação de sintomas na paranóia é o processo que merece o nome de projeção. Uma percepção interna é suprimida e, ao invés, seu conteúdo, após sofrer certo tipo de deformação, ingressa na consciência sob a forma de percepção externa.”

"A hostilidade, da qual os sobreviventes nada sabem e, além disso, nada desejam saber, é expelida da percepção interna para o mundo externo, sendo assim desligada deles e empurrada a outrem."

“Quando atribuímos as causas de certas sensações ao mundo externo, ao invés de procurá-las (como fazemos no caso dos outros) dentro de nós mesmos, esse procedimento normal também merece ser chamado de projeção.”

terça-feira, 21 de abril de 2009

Sobre escrever

Um pouquinho de Clarice Lispector:

"Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando"...

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."

"Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador."

domingo, 19 de abril de 2009

Frustrações, decepções e euforias

"Tenho grandes frustrações e decepções.

Tenho grandes euforias.
Amo e odeio apaixonadamente.

Uma vida intensa, difícil, saborosa!
Acho a vida uma grande aventura.

Espero que os idiotas me compreendam."


Samuel Rawet

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Fragmentos Pré-Socráticos

Um pouquinho de Filosofia:

"Lutar contra os desejos (thymos) é difícil. Pois o que ele quer, compra-se a preço de alma (psyché)."

"A natureza das coisas gosta de ficar escondida."


Heráclito de Éfeso

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Ampliando horizontes

Queridos seguidores,

A partir de agora, o Faísca da Pororoca não se limitará mais somente a textos do Michel Melamed, nem a assuntos relacionados a ele. É necessário experimentar novas possibilidades, conhecer mais e ir além.


Michel, seus textos e suas idéias foram a faísca, porém precisamos de novos combustíveis que mantenham acesa essa chama, estimulem nosso pensamento, animem nossa inspiração e promovam nossa consciência crítica.

Além do mais, a partir do momento em que as atitudes do poeta têm sido maior fonte de especulações do que a obra, é inevitável uma mudança de foco, para arejar as mentes e renovar os ânimos. Quando algo, ou alguém, torna-se um obstáculo para nossa capacidade de criar, é chegada a hora de mudanças.


E para inaugurar essa nova fase, um poema do dramaturgo Bertolt Brecht:

"Nós vos pedimos com insistência:
Nunca digam - Isso é natural!
Diante dos acontecimentos de cada dia.
Numa época em que reina a confusão,
Em que corre o sangue,
Em que o arbitrário tem força de lei,
Em que a humanidade se desumaniza...
Não digam nunca: Isso é natural!
A fim de que nada passe por ser imutável"


Tatiana B. e Ana Paula Raposo

sábado, 4 de abril de 2009

E ELE deveria se sentir assim...

Neste exato momento, encontro-me em profunda modorra. Os ponteiros do relógio mostram as primeiras horas de um novo dia. Mas, apesar de toda a exaustão, não consigo descansar. Algo me prende a uma tela quadrada e colorida.

Uma voz me chama e me convida a ler palavras, sentir frases, enxergar sentimentos. Então me deixo levar. Sigo a voz. Vagueio, navego, viajo...

Olho para a tela quadrada e colorida. A voz tem razão. Abro janelas(?). Sim, ainda que virtuais, não deixam de ser janelas (já nelas, ou nelas já, como preferires). Em cada uma delas, encontro letras que, juntas, formam algo além de simples vocábulos.

Começo a ler tais palavras. De repente, outra voz: “Penetra surdamente no reino das palavras, cada uma delas tem mil faces secretas sob a face neutra”. A partir daí, não há como escapar. Sinto-me com-ple-ta-men-te presa àquelas frases.

Então, REFLITO. A reflexão me proporciona interpretação. Interpreto. Carrego em mim o que capto das expressões lidas, a essência de cada oração dita. E essa essência (re)tirada a partir da interpretação é o suco que se extrai de uma fruta que acabou de ser descascada. E é isso que faço com cada palavra que leio: descasco-as. E continuo a decifrar.

Meus pensamentos vão além. Encanto-me. Descubro que muitas das “faces secretas” se mostram aos meus olhos. Percebo que minhas interpretações surtem efeito. Emociono-me. Como é bom viver as palavras.

Mas, à medida que leio, noto que o texto vai tomando ares de término. Então aproveito os últimos ditongos e os últimos hiatos da leitura que vai se esvaindo, esvaindo, esvaindo... Enfim, o que eram palavras, viram ponto final. E o texto toma seu fim.

Na última linha, uma frase-destinatário: “um beijo carinhoso em teus olhos ou somente um beijo afetuoso”. Minha’alma se enche de um luxo radioso de sensações. É o melhor de todos os beijos. Agradeço.

Tiro os olhos da tela. E o cansaço me vence. Vou dormir.
Um beijo a ti também.


Originalmente escrito por Ana Paula em 20/12/08, ainda de madrugada.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Homemúsica em 28/03/2009 - Renata

Mais um depoimento nos foi mandado. Dessa vez, Renata, conta como foi assistir a Homemúsica e conversar com Michel Melamed, após o espetáculo.

"Oi gente, me desculpem pela demora, mas aqui vai meu depô:

A PEÇA: Genial! Com um entrosamento muito legal com a platéia, muito bem interpretado pelo Michel, e com uma prudução muito boa. Os músicos que o acompanham tanbém são muito bons! O texto é bem forte e bem amarrado, tem umas tiradas bem interessantes e engraçadas! Bom, foi incrível ter visto "Homemúsica", e bem, eu que sentei na primeira fila, bem em frente ao palco, fiquei nervosa no começo, pois bem ali estava o Michel Melamed né gente! Sobre as músicas tocadas: Incríveis, muito bem arranjadas e com um som bem limpo, uma bateria carregada de energia, um baixo da pesada, e a guitarra linda né kkk, a propósito, o Michel canta muito bem!!!!!!!!!! As letras contam um pouco da história na peça. Bom, pra quem viu a peça, sabe do que eu estou falando, simplesmente completa!!

SOBRE O MICHEL: Muitíssimo atencioso e carinhoso com todos que estavam esperando por ele, no final, para tirar uma foto, conversar etc. Eu não sei o que me deu na hora, que eu simplesmente travei. Não consegui dizer nada! Até hoje me arrependo disso. Mas mesmo assim foi mágico. Tinha muita gente pra falar com ele, então não ia dar pra ficar conversando mesmo, uma pena! Depois que ele ja havia tirado foto com várias pessoas, ele veio em minha direção. Naquele momento eu só consegui dizer, com o programa na mão pra ele autografar: "Por favor?'' Eu não lembro muito bem como foi, pois estava muito nervosa. Ele pegou o programa, pensou um pouquinho e autografou, depois assinou o da minha irmã. Em seguida, pedi pra tirar uma foto, e ele, muito atencioso tirou, depois foi a vez da minha irmã. Daí depois eu o parabenizei, o cumprimentei dando as mãos, e com um beijinho no rosto. Depois me virei e saí do teatro com o coração na mão. Apesar do pouquíssimo tempo, foi umas das experiências mais incríveis de toda a minha vida! Cheguei em casa, e quando fui dormir, até sonhei com o dia que eu vivia sonhando em ter! Bom, é isso pessoal, foi tão legal que até fiz novas amizades! Amizades melamédicas!! Muito obrigada pelo espaço, e tomara que que venha muito mais Michel Melamed por aí!! Beijos!!!"



Renata, mega obrigada pelo texto, e continue acompanhando o Faísca.