quarta-feira, 18 de março de 2009

Fragmento de Homemúsica

“Podia ser em qualquer direção que o sentido seria um só. Os paus-de-arara, ônibus, carroças e caminhões, todos atravessam o país sem fazer cócegas, carinho ou cicatriz. O mapa parece intocado apesar do trajeto incessante. Como um carrinho de mão por sobre a terra este rastro deveria ficar marcado, este percurso merecia se fundir ao chão, afundá-lo. Essas estradas que ligam o norte e o sul do país, pelas histórias que carregam, deveriam estar abaixo do nível do mar. Mas não é assim que banda nenhuma toca. E é por isso que tem cidade grande e cidade pequena. Tem a cidade que manda e a que corre atrás da bolinha, traz os chinelos. É cidade catando migalha, cidade de quatro pra cidade, chupando o pau de cidade, tomando cascudo e vomitando sobre a outra que agradece dada a penúria. E maioria em volta em silêncio. De vez em quando o som das rodovias rompe esse silêncio, mas não muda nada não. Porque as cidades estão só brincando, são como crianças. Crianças perversas maltratando-se umas às outras. Daí tem a cidade maiorzona, desengonçada e má, que bate em todo país, mas que mais dia menos dia vai levar porrada de todas juntas ou de uma pequena, que então vai virar herói e namorar a cidade mais bonita daquela região...”

3 comentários:

  1. A grande e infindável desigualdade socioeconômica de um território tão imensamente vasto... de porcarias.

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  2. Levar e dar porrada – é a barbárie !

    Ainda prefiro um caminho traçado como um mapa, que nos confere direitos à cidadania.

    Um caminho não nos é dado de presente, ele é uma conquista diária.

    Por vezes precisamos dos ombros dos gigantes, como o Poeta Melamed, para enxergar do alto e adiante!

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